a bruxa

eu fiz trinta anos e a bruxa quis sair. com centenas de anos, ela está presa aqui há trinta. ela se força pra fora do casulo e por isso que tanto dói. como dói, como dói. ela me fez crescer os cabelos ao longo do tempo, longos ao infinito, pois precisa, com eles, tocar a terra pra fazer sua mágica. a bruxa grita, clama pra que eu a deixe sair. pra que eu grite junto com ela. pra que eu gargalhe com ela. a bruxa com o cachorro preto. a sacerdotisa. você vai encontrá-la no seu templo, cultivando sua sabedoria e sentindo seu coração que tudo a diz. todos os segredos do mundo estão dentro dele, estão todos dentro dela. com respeito aos caminhantes erráticos, ela é quieta e certeira. ela está quase, quase saindo. vai explodir! a bruxa me estica a postura, porque precisa do céu pra combinar com a terra. ela existe por ela mesma e só assim existe por todos os outros seres ao seu redor. ela quer que eu enfie os dedos nas terras, que eu fique em silêncio com a cachorra preta, em conversas profundas que ninguém entende. a bruxa dos trinta anos quer sair, quer sair madura, adulta, dona do seu corpo e do seu tempo. ela sabe bastante coisa. e o que não sabe ela sente, escuta com o vento que passa. ela está aqui pela arte, ela está aqui pelo conhecimento, ela está aqui pelos seres: eles que não são livres, nem felizes. ninguém ainda é. ela também não é, não nos seus trinta anos. mas a bruxa dos trinta anos tem centenas deles, quer sair de qualquer jeito. ela sim é livre. e deixá-la sair vai me fazer mais feliz.


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