chocolates e canivetes

 


você me contava que na sua viagem só encontrava isso. eu brinquei que na vida a gente só precisa disso. eu fiquei pensando em como nosso encontro era também composto por chocolates e canivetes. porque eu estou tão desacostumada em conhecer um desconhecido que nossa conversa, sem intimidade, variava entre chocolates e canivetes. entre doçuras intensas e cortes fortes no ar. cortes pelos constrangimentos, pelas estranhezas, pelos assuntos atropelados. eu não quero dizer que canivetes são todos ruins. nas raras vezes em que o assunto pausava, a gente rasgava um ao outro com o olhar - acho que ambos somos bem bons nisso.

chocolates foram vários, é doce ouvir que alguém gosta de coisas que você gosta. é doce saber que eu posso passar meu valioso tempo só vendo a sua beleza, em contemplação, sem preocupações e sem culpa. beleza, inclusive, que achei por aí e do mesmo jeito me foi doce e cortante. deu vontade de engolir e me deixou imóvel. existe muito doce em conhecer alguém mais jovem, os tempos são diferentes e tem ali uma certa inocência - por mais que você possa achar que não. isso não quer dizer que seus cortes, aqueles doídos da vida, não sejam visíveis: são nítidos e você me deixou ver logo no primeiro dia. eles te deixam mais duro do que deveria nessa sua idade, mas nos aproximam e assim me posso fazer entender melhor. eu acho que o tempo trata de trocar canivetes por chocolates, fazendo com que cada vez seja mais doce.

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